currículos

Com o fim do ano (lectivo, vá) começo a pensar na questão dos currículos e entrevistas de emprego. E para dizer a verdade, isso assusta-me como tudo. Acho que muitas das pessoas que conheço (principalmente colegas meus) inflamam o seu currículo até mais não. Por exemplo, se tiveram determinada cadeira em que se dá linguagem X, metem no currículo que são pro nela quando apenas a aprendemos e fizémos uns trabalhos, e chegam ao ponto de colocarem aptidões que não têm apenas porque sabem mais ou menos do que se trata. Eu penso não serão depois apanhados em falso nas entrevistas? E a maior parte das vezes não. Como são pequenos enganos aqui e ali vão passando e arranjando emprego. Por um lado percebo, acho que o fazem por quererem realmente o emprego e por terem medo de passarem para o fundo da lista de selecção por terem menos uma formação ou capacidade do que o colega entrevistado anteriormente. Com a pressão que hoje existe de se ter um currículo impecável desde sempre e cheio de boas referências, ninguém se quer sentir menos do que os outros. Ninguém quer pôr no currículo a referência ao trabalho onde se falhou redondamente ou ao curso que não se concluiu ou se teve uma média miserável. Mas sinceramente, isto de embelezar esse documento é algo que me deixa desconfortável.

Hoje ao ler esta noticia do Observador sobre "um criativo norte americano" que experimentou fazer um currículo "com base nos seus podres, incapacidades erros e falhas", pensei o quão mais fácil para mim seria fazer um currículo assim. No meu currículo eu queria poder falar das cadeiras que tive e no meu nível em cada grupo de cadeiras. Queria dizer que gosto de determinada linguagem e que nesta cadeira fiz este trabalho interessante, invés de nesta outra disciplina, onde estive a marcar passo e a despachá-la à toa. Queria explicar as falhas do meu percurso e do curso onde estive de forma a não esperarem que seja boa numa área apenas porque vem no currículo um 14. Queria colocar que trabalhei numa outra empresa e que me portei mal e desisti antes de acabar o trabalho que tinham para mim. Sem arranjar desculpas para o meu desempenho. E fora a parte profissional que mais lhes interessa, também gostava de mostrar quem sou para além de um curso ou profissão.

Percebo que Europass seja mais legível e fácil, para não falar de que é mais directo comparar currículos semelhantes do que ter mil e um em formatos diferentes. Mas acho sinceramente o Europass uma treta. Acho que não espelha o que uma pessoa realmente aprendeu e quem realmente é e que por outro lado dá espaço para inventar skills. Claro que isso também depende do grau de honestidade e consciência de cada um e acredito que ninguém que minta desmesuradamente para ter um trabalho não seja desmascarado mais tarde.

Bem, toda esta conversa e é provável que vá ser uma pussy e acabe por preencher o Europass ou outro formato que toda a gente usa. Mas era bom que fosse normal enviar currículos alternativos.

4 comentários:

  1. no meio académico é habitual os nossos currículos serem complementados por um "statement of purpose"; o SoP serve exactamente para mostrares o teu lado pessoal e abordares muitas das coisas que referiste acima. não sei quão comum é no mercado de trabalho, mas talvez valha a pena investigar? muitos empregadores estarão certamente interessados. (also: o workplace stack exchange talvez possa ser útil em relação a isto!)

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  2. também pensei fazer um curriculo fora do normal, mas depois olha fiquei com o europass xD

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  3. Podes crer. Já fiz um post a comentar isso, em como o formato Europass e falei em especificamente dos alunos que vão de Erasmus. Há pessoas que têm péssimas experiências de Erasmus, há quem desista, há quem passe o semestre a ter cadeiras de muito menor valor que as cadeiras que teriam no seu curso de origem enfim... O campo em que surge "fez Erasmus do ano x ao ano y" não significa que tenham passado uns meses a adquirir novas competências, que sejam facilmente adptados a novas experiências e ambientes, que dominem bem outras línguas, etc etc etc. O modelo Europass é uma treta, é falacioso e ambíguo, e acho que a maioria das pessoas só continua a usá-lo porque é mais fácil de preencher um template do que ser criativo e fazer algo diferente.

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  4. Também concordo que é para quem nunca fez muita coisa, até porque aquele modelo prevê uma lista com uns quantos campos sobre cada experiência profissional. Eu comecei a trabalhar em Verões ainda era menor de idade, por acaso quando fui para a faculdade até parei, mas caso tivesse continuado, por este andar a minha lista já devia ocupar mais do que uma página (estive sempre em sítios diferentes e actividades diferentes). E depois um dos conselhos que nos dão sempre como must-do no preenchimento de currículos é não fazer 1 currículo muito extenso porque as entidades empregadoras não têm "paciência" para ler os curriculos inteiros com atenção. Pois, eu cá considero importante que um patrão meu saiba que eu fui uma pessoa determinada e esforçada ao ponto de sacrificar os meus Verões de férias para conseguir ganhar dinheiro e comprar coisas que os meus pais nao me podiam dar. Mas isso pelos vistos não compatível com um curriculo correcto. Se pudesse usar um modelo livre, facilmente podia descrever esta situação numa única frase e ideia estava transimtida -.-

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