honesty

Estava a falar com um amigo sobre algo, que não era nada de especial, mas tinha a ver com raparigas. E às tantas ele diz "mas tu apoias sempre o que eu digo, mesmo quando não concordas" (isto em aspecto de raparigas). O que de certa forma não me apanhou de surpresa, porque diria que sim, é assim que funciono. E se à partida o meu sentido crítico vem logo ao de cima, felizmente nem sempre falo mais rápido do que penso. Eu não consigo ser frontal, dizer logo a primeira coisa que me surge na cabeça e ficar à espera que a outra pessoa que se amanhe com a minha opinião. Acho que por vezes essa frontalidade magoa e não é útil nem ajuda em nada. E lá está, se for ao contrário, prefiro uma opinião dada de uma maneira soft (por vezes nem é preciso dizer tudo, é no que deixam por dizer que está a resposta) do que uma entrada logo a matar e que me deixasse com a certeza de que a minha decisão não ia ser respeitada, independentemente de qual fosse.

Pensando numa situação que me acontece amiúde, um amigo pergunta a minha a opinião sobre uma rapariga com quem está a sair. Uma vez que, a maior parte das vezes, nem conheço a miúda e apenas me mostram uma fotografia, se a julgar esteticamente estou a acrescentar alguma informação relevante? É por a achar gira ou não que vai valer a pena? E se não a achar gira, isso é apenas a minha opinião, que guardo para mim, pois não me parece que o aspecto diga tudo sobre uma pessoa.  Por outro lado, se não conheço a rapariga, mas do que os meus amigos me contam, tenho a ideia que a miúda é uma cabeça cheia de confusões que simplesmente vai andar às voltas e não chegar a lado nenhum. Vou dizer ao meu amigo, à pessoa que está na relação "deixa-te disso que só te vais magoar"? O que sei eu, no final de contas, sobre o que se passa entre eles? A relação diz respeito a duas pessoas e eu só conheço a versão de uma. E se conhecesse os dois lados, mais uma vez não é da minha conta. Mesmo que esteja farta de ver o meu amigo magoado, e que lhe abra os olhos, do género "tu já passaste por esta situação. O que te faz pensar que vai melhorar ou ser diferente?". Se o meu amigo disser “tens razão” e de seguida ignorar os meus conselhos e fizer o contrário, over and over again, qual acham que vai ser a sua atitude em relação a mim daí para a frente? Qual acham que é a atitude mais comum?

a) Escolhe o caminho mais difícil - e a meu ver mais correcto - que é admitir que fez o contrário do que lhe aconselharam porque “the heart wants what it wants”. Mesmo sabendo, daí em diante, que os amigos não concordam com a sua decisão, e que a próxima vez que for magoado vai ouvir um “bem te disse”? Para não falar da estranheza que pode haver se a namorada/namorado souber da opinião negativa que têm a seu respeito.

b) ignora o grilo do Pinóquio e afasta-se gradualmente desse amigo pois é complicado gerir a namorada e o amigo que lhe disse que esta era uma má aposta. 

Ganhasse eu um batom por cada vez que já vi acontecer a segunda opção (a outras pessoas e a mim também) e teria uma colecção muito maior do que a actual, que já não é pequena.

Tudo isto não quer dizer que não dê, por vezes, a minha opinião. Faço-o sim de uma maneira comedida, pois para além de não querer magoar o meu amigo nem a pessoa com quem ele está, não quero que essa mesma opinião se vire contra mim. Prefiro estar no papel de quem ouve e guarda o desabafo, do que quem dá conselhos ou julga. Porque no fundo, cada pessoa deve seguir o que acha de acordo com o que sabe, e não por ser a opinião que este ou aquele tem. Por sua vez, um amigo deve aceitar as escolhas que o outro faz. Se não gosta da pessoa que ele escolheu, azar; respeita a sua opção e não está constantemente a dar-lhe na cabeça e a trazer à tona casos passados. Se custa ver um amigo em baixo porque, na nossa opinião, a resolução é simples e ele está a parvo, sim custa. Mas a seu tempo a vida resolve-se e as coisas compõem-se, pois não acredito que uma pessoa se designe a ser infeliz para sempre. E uma amizade que se perde durante esses tempos complicados, apenas porque não vamos com a cara da cara-metade do nosso amigo, é muitas vezes um desperdício.