odeio que mintam aos putos

Esta semana estive durante umas horas no stand da minha faculdade na futurália, e para quem ia com expectativas baixas em relação ao pessoal que está no secundário, não podia estar mais errada. Há sempre aquela mania de dizer que as gerações a seguir à nossa "estão perdidas", não se interessam por nada e são mal-educadas. Totalmente errado. Sempre que perguntei se precisavam de ajuda ou estavam interessados em algum curso em particular, foram poucos os que me disseram "não obrigado, estamos só a ver". Praticamente todos quiseram ouvir o que tinha para dizer. Inclusive, houve alguns alunos que tive pena de puder ajudar mais, dar-lhes o meu contacto ou facebook para colocarem as dúvidas que fossem tendo. Perguntaram-me coisas tão distintas como se haveriam de engressar em cursos profissionais em vez de seguir para ciências, uma vez que já tinham uma ideia definida do que queriam fazer e gostavam de começar nessa área já a partir do 10º ano. Só pude falar da minha experiencia e de outras pessoas que conheço, e espero que tenha ajudado alguma coisa. Acho que só ouvindo as partes boas e más de vários lados se consegue fazer uma escolha informada. E acho, sinceramente, que a maior parte dos estudantes que foram lá fizeram isso mesmo, ouvir.

Mas se tivesse que fazer queixinhas e dizer quem se portou mal, foram mesmo os adultos.

Uma professora (de um outro departamento) que estava comigo não parava de me perguntar as horas e de dizer "ai ainda faltam duas horas" ou "está quase, já estou farta de estar em pé" (ninguém foi obrigado a estar no stand, quem lá estava voluntariou-se para o fazer, atenção). Essa mesma professora só chegava perto de algum estudante quando este parava a olhar para a máquina que tinham desenvolvido no seu departamento. Uma máquina sobre a qual ela apenas conhecia um componente, e nem conseguia explicar o funcionamento geral (porque nem tinha sido ela a desenvolver a mesma, mas sim outros professores e alunos). E o que mais me irritou em relação a essa professora, foi o facto de estarmos lá para promover a escola em si, não um curso em particular. Quando me perguntavam sobre maçãs, eu não ia dizer "não leva antes tangerinas que te faz bem e é o que costumo comer". Uma coisa é falar de cursos parecidos ao seu. Outra é não responder nada sobre o curso no qual os alunos estavam interessados em saber informações, desvalorizando o que eles pediram ao começar uma autêntica exposição de termos e tretas que nem eu percebi. Ou entrar a meio da minha conversa com um grupo de estudantes e dizer "mais meninos para X? Não, Y é que é bom" ou "então mas não há ninguém para Y? Aiiii estes meninos". Not cool, sista.

Outra senhora, que suponho ser a nossa relações-públicas, foi a que (para mim) mais ajudava quem por lá passava. No entanto, disse coisas sobre os estatutos e a empregabilidade de alguns cursos com as quais não concordo de todo e sei que não é assim. Estava, portanto, a passar algumas informações erradas misturadas com outras certas, a pintar um quadro rosa (que está longe de o ser) sobre a nossa faculdade apenas para que caíssem lá os quantos no próximo ano. Para quê enganar uma pessoa, se esta vai chegar lá para o ano e ver que não é assim? Acham que vai ficar? Não, vai mudar à primeira oportunidade, ou dizer o resto da vida que se formou naquele curso ou faculdade porque na altura pensou ser algo que afinal não correspondia à realidade. 

Para além disto, ainda tenho a criticar um outro "senhor doutor" que passou o tempo ao telefone e a olhar para quem passava, sem esclarecer ou falar com ninguém dos que iam - propositadamente! - ter connosco ao stand à procura de informações. Acho que até o expositor onde estavam uns panfletos tinha mais utilidade do que ele. Se não estava lá a fazer nada, para quê estar de todo? 

Resumindo do que vi, acho que deveriam colocar mais alunos em vez de professores nesses stands. Em todos os outros lugares onde passei, vi que os visitantes da futurália iam mais facilmente perguntar coisas aos mais jovens do que aos professores que deambulavam por lá. Se o objectivo é cativar futuros alunos, quem melhor do que os próprios alunos para o fazer? Outra coisa que deveriam mudar era parar de mentir aos putos ou, de certa forma enganá-los, dizendo apenas meias verdades. Parar de dizer que determinada faculdade é melhor do que outra, mas sim fazer ver quais são as nossas diferenças, as coisas boas que temos e o que se faz por lá. Porque vai sempre haver quem se identifique mais com determinado método de ensino por isso existem alunos para todos os gostos. No entanto, vai haver alguém que queira profissionalmente coisas específicas que só se obtém indo para determinada faculdade ou curso, e dizer que "é igual a outra faculdade, mas em bom" é generalizar de maneira um bocado parva e enganadora.

Eu já fui aluna do secundário, já tive muitas dúvidas e também fui à futurália. Não foi nada útil para mim e agora sabendo como aquilo funciona, percebo porquê. No final do dia, não se podem esquecer que o primeiro objectivo das universidades, politécnicos e escolas profissionais, é angariar alunos, não esclarecer os alunos. Não concordo com esse ponto de vista e desviei-me o mais que pude desse mesmo propósito, tentando ser imparcial ao máximo. Contudo, e tendo em conta que as coisas mudaram (para melhor) comparativamente ao ano em que fui como estudante do 12º ano à futurália, acho que o vale a pena ir porque existe mais oferta e informação. Vale a pena ouvir diferentes coisas de várias pessoas, recolher panfletos, conhecer novos cursos aos quais ainda não tínhamos ligado. E quando chegar a casa, aí sim, começar a procura a sério. Pesquisar as opções que pareceram mais interessantes. Investigar se o que vos disseram por lá é mesmo verdade, quais as verdadeiras taxas de emprego e saídas de cada curso, diferenças entre faculdades, e até o ambiente das mesmas. Ver a futurália apenas como recolha de informação, e não como verdade absoluta. 

E quanto às novas gerações (olhem para mim a falar como uma pessoa crescida) só posso dizer: faith in youth restored.

5 comentários:

  1. Os professores e os sites das universidades mentem imenso, é vergonhoso. Quanto às gerações mais novas, quase toda a gente pensa que são piores, mas a verdade é que sempre existiram pessoas interessadas e pessoas desinteressadas. Portugal tem um problema de falta de cultura e educação graves, que passam para as gerações mais novas, mas não passa mais do que passou na nossa ou na anterior há nossa. Os jovens que estão adora no secundário são exactamente como nós quando lá estávamos: uma boa parte é uma merda, alguns são brilhantes e interessantes e muitos são medianos. Acho mais deplorável que os adultos de hoje se esqueçam de como eram há uns anos e continuem a tratar os adolescentes com condescendência, partindo do princípio que são todos atrasadinhos mentais.

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    1. É exactamente isso. Acho que esses adultos se estão a lixar para a vida dos mais novos. Vão dizendo umas coisas, sem se preocuparem com a influência das suas palavras e conselhos, e se estiverem errados o pensamento é "que se desenrasquem, na minha altura também tive que o fazer". Não é bem assim. Ainda uma maioria absurda se engana no curso e perde tempo (às vezes anos!) entre mudanças para o que realmente quer. Alguns são uns tótos o fazem por preguiça ou gozo, mas acredito que a maior parte recebe falsas informações de pessoas que os poderiam perfeitamente ajudar pois já passaram pelo mesmo.

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  2. Ás vezes os adultos são mesmo piores. A vários níveis, mesmo a nível de respeito e educação cívica! É uma vergonha e se for preciso ainda vêm falar de boca cheia a dizer: «ai esta juventude de hoje em dia é tão não sei quê» e se calhar se olhassem para eles mesmos iam ver que eles é que eram!!! Adorava ter ido à Futurália mas este ano não consegui mesmo :(

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  3. há uns adultos do pior... e depois queixam-se dos miudos se nao os educam...

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  4. Pode ser um pouco fora do topico mas...acho que desde a minha geracao (dos 80 e poucos) ate hj...perdeu-se um pouco o interesse genuíno de aprender. Os casos que conheci de cursos fraudulentos de universidades privadas com a conivência de quem la estuda...devia de nos encher de vergonha. E mesmo cursos de universidades publicas com mais de 90% de sucesso e 0 de empregabilidade. Faz-me crer que estamos mais interessados em ter um canudo (um qualquer) do que realmente em aprofundar conhecimentos neste ou em outra area. Vejam so pela discurso que mais se ouve por aí: "eu tenho uma licenciatura de 5 anos!" "eu tenho um mestrado!"...e o que é que fizeram com isso mesmo?
    E foi em londres que encontrei um discurso diferente. Posso estar a falar com director que tem um mestrado de oxford, ou com um programador com apenas o 12 ano...que trato ambos pelo primeiro nome...sem merdas. Alias...ninguem sabe, nem se preocupou em saber, que sou engenheiro. O que sempre importou é se consigo fazer aquela tanga. Numa entrevista o curriculo academico é despachado em 2 minutos. O que realmente importa é o que fiz com aquilo que aprendi...e o que aprendi depois. (sera que adianta a alguem dizer que esteve x anos no benfica se nunca marcou um golo?) Alias...agora perguntam muito o que fiz fora do trabalho. Que projectos opensource participei. Que hobbies tenho fora do trabalho (relacionados com a minha profissao).

    Acho que existe uma mentalidade demasiado quadrada quanto ao valor de um canudo em Portugal. Primeiro, julgamos que quem estuda 3 ou 5 anos sabe imediatamente fazer alguma coisa...que raramente é verdade. Depois achamos que só sabe fazer aquilo. Um advogado só sabe de codigo civil. Um arquitecto só sabe desenhar em autocad... e esquecemo-nos de tudo aquilo que deviamos de ter aprendido na faculdade. Um prof meu (o Eng Carlos Martins) disse-me que iamos sair das aulas dele (sobre programacao concorrente) a saber nada...e do curso tb. Que o significado de "estar licenciado" era "estar licenciado a aprender"...agora é que sabes aprender por ti mesmo...agora é contigo.

    tudo isto para tentar voltar ao ponto que me fez chegar aqui...escolher um curso (ou nao) é uma decisao importante mas nao é um sentido unico...
    o chefe do departamento de desenvolvimento de um site lider do seu mercado tem um mestrado em...fisica.
    um senior developer da minha equipa tinha uma licenciatura em...biologia.
    O grande diferenca destes 2 para os licenciados "comuns" é que tinha estado em cambridge...podem nao ter aprendido a programar no curso mas leram os mesmos livros que eu fora. Licenciados a aprender. Mesmo quando nao sabiam algo que alguem dominava como por ex continuous integration, eles liam umas coisas e em 2 semanas dominavam aquilo.
    Mas nao era preciso ser so de grandes universidades...
    um dos melhores developers que conheci nem sequer tinha curso. estava a colocar caixotes nas prateleiras do armazem de um supermercado 2 anos antes.
    leu os livros certos. aprendeu a desenhar os seus proprios jogos...e hoje rouba o lugar a tipos com mestrado.
    E mais recentemente conheci um medico...que decidiu que afinal nao queria ser medico antes do internamento/especialização e comecou a trabalhar como programador. isto seria impensavel em portugal (quer ele, quer um empregador)...porque o que importa, para nos, nao é o que conseguimos fazer bem ou o gosto que temos em fazer as coisas mas o nosso status. Daí tantos quererem ser doutores de "qualquer coisa".

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