não saber o que vai acontecer

Quando tinha 18 anos, e com a entrada na faculdade, atingi um ponto de estagnação como nunca tinha acontecido. Fui daquelas pessoas que infelizmente ouviu a vida inteira do quão bom seria entrar, do quão mais fácil a minha vida ia ser se tivesse um curso. Digo infelizmente porque graças a isto grande parte do que sempre fiz foi estudar para o conseguir. E quando lá cheguei, bem, não soube para que lado canalizar os meus objectivos. Não sabia o que queria fazer a seguir e fui indo com a corrente, sem pensar que o tempo passa e que deveria, talvez, fazer outras coisas sem ser estudar. Há pessoas que estabelecem tirar a carta aos 18, acabar o curso, estar a trabalhar aos 23, ter carro e casa no passo seguinte, e uma vida estável lá para os 27. Isto era o que ouvia quando era miúda, porque hoje em dia o que mais se vê é que não é bem assim, por força das circunstâncias em que está o emprego, o país e tudo mais. Mas ao contrário dessas pessoas, eu não estabeleci nada para depois dos 18 anos. Não fiz planos. Tirei a carta porque calhou e ainda hoje não considero que tenha sido um grande feito. Agi como na expressão “go with the flow”, quase em piloto automático a partir daí.

Olho para trás e penso, como é que eu, aos 18 anos, não defini um plano de objectivos minimamente concreto? Não acredito muito no planeamento exaustivo (até porque quase nunca bate certo) mas deveria ao menos ter umas luzes do que havia de fazer e de ter. O mais irónico é que agora, aos 20 e poucos, também estou assim, sem grandes planos a longo prazo. Não penso casar-me ou ter filhos nos próximos anos e comprar casa parece-me um plano irrisório. Não penso sequer que quero trabalhar naquela ou outra empresa, acho que me interessa mais o que vou fazer enquanto profissional. Embora neste ponto, duvide de tudo, das minhas capacidades, do que aprendi, tudo agora me parece pouco e desadequado. Cada vez mais acho que não interessa ser expert em A ou B se como pessoa não se vale nada. As pessoas interessam-se cada vez mais pela componente pessoal mesmo que não se seja um trabalhador de mão cheia. A minha vida pessoal vai ser avaliada na hora da decisão de ficar ou não com um trabalho. E isso assusta-me um bocado, pois não sei se, como pessoa, sou assim tão importante ou interessante. Por isso acho que deveria ter feito outras coisas em vez que passar o tempo em transportes, na faculdade ou simplesmente, a fazer nada.

Sei que hoje tenho alguns (poucos) objectivos e todos feitos com base nos se's: se arranjar trabalho neste espaço de tempo, se ganhar isto, se as outras pessoas à minha volta agirem de determinada maneira, há um caminho a seguir. Mas se variar, mesmo que seja apenas numa destas coisas, o caminho já pode ter diferente. Daqui a uns anos também vou olhar para trás e pensar que deveria ter feito um plano mais concreto agora? Vou ter a mesma leve sensação de frustração que tenho hoje ao olhar para trás e pensar que poderia ter feito mais? Espero que não. Era bom que o meu eu do futuro viesse dizer-me que as coisas vão correr suavemente como têm corrido (com alguns tropeções temporários pelo caminho) e que vou conseguir dormir bem à noite todos os dias e acordar sem nenhum sentimento de perda ou arrependimento. É que mesmo sem planos, estou bem assim. Um bocado atrasada talvez, mas ainda com tempo para mudar se me enganar. Quase nada é ainda irreversível e gostava que fosse sempre assim.

1 comentário:

  1. Todos somos diferentes, temos ritmos diferentes e o que importa mesmo é que te sintas bem como estás! Com mais ou menos planos traçados :)

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