the Essena O'Neill thing

Por esta altura já muita gente deve saber quem é a Essena e o que disse para ser notícia em todo o lado. Já subscrevia o canal dela no Youtube há vários meses, mas para dizer a verdade, não via nem metade dos vídeos que ela publicava porque nem sempre me interessava o que ela fazia. Mas há umas semanas (?) ela publicou um vídeo chamado "How people make 1000's on social media" e meu deus, a sério que há pessoas a serem pagas em números tão redondos para, numa foto aparentemente "inocente" postada no instagram, usarem o vestido/biquini de X marca? Não é novidade para mim que bloggers de moda - que fazem de facto carreira disso, como a Chiara Ferragni - estejam sempre vestidas com as peças mais recentes lançadas pelas importantes casas de moda. É promoção, talvez encapsulada sim, mas eu aceito essa parte uma vez que quando escolhi seguir a Chiara no instagram já sabia que mais de metade dos post's (não arrisco percentagens, mas diria que a maioria) iriam tratar-se de publicidade. Mas pessoas normais serem pagas para isso? Apenas por terem um número considerável de seguidores? E quantias tão altas como 400$ por UM post de uma foto sua com um vestido? It blows my mind.

Em relação à Essena, para além desse vídeo onde expõe o quanto ganhava, ainda colocou outro sobre as razões pelas quais iria desistir das redes sociais. Ao inicio, o que ela contou sobre desde os seus 12 anos a vida dela ter girado sempre à volta de números e do seu aspecto, fez sentido. A primeira rede social onde estive foi o hi5. Se querem falar de números, falem do hi5 porque aquilo era o terror. No vosso perfil à direita haviam umas barras com uns números que basicamente mediam os amigos que tinham, os comentários às vossas fotos haviam, comentários ao perfil, quantas visualizações de perfil tinham tido, quantos fives (que para dizer a verdade, já nem me lembro o que eram) e outras coisas. Aquilo não era mais do que um quantificador de popularidade. Quem tinha mais eram normalmente as pessoas fixes da escola, e claro que isso levava a comparações. No fundo, todos achávamos que se tivéssemos mais comentários, mais amigos e mais fives, mais gente se queria dar connosco, portanto mais populares éramos considerados. Resumindo, sim, era fácil ficar agarrada aos números. Cheguei a ter mais de 1000 amigos nessa rede social, o que era completamente disparatado para a quantidade pessoas que conhecia na vida real, e ainda mais estranho quando penso que hoje em dia no Facebook não tenho nem um terço.

Considero ainda hoje o Facebook uma rede social fixe porque o tratei de forma diferente do que o hi5: adiciono apenas quem conheço, sigo as páginas que quero ao invés das que "parecem bem" seguir, escolho não seguir aquela prima ou tia chata que só publica spam. Isso resulta num feed bonito, a meu ver. Não me aparece uma foto de um "amigo" que nunca vi na vida, nem tenho que levar com os "bom dia mundo" ou publicações de cortar os pulsos. Bem sei que o Facebook tem grandes falhas e não me dá só o que eu quero/gosto de ver, mas em relação ao hi5 foi uma grande melhoria nesse aspecto.

Agora, a Essena diz que toda a vida dela girou à volta de números. E que recebeu quantias avultadas para promover determinados produtos online, através do Instagram, tumblr, Youtube... estão a ver aquelas fotografias de uma caneca de chá casualmente pousada em cima de uma mesa com a hashtag "best tea ever" ou hastag "inserir nome do chá"? Segundo o que diz, não é assim tão desintencionado. Pela minha interpretação, todo o movimento "Let's Be Game Changers" que ela começou tem como objectivo mudar a maneira como as pessoas vêm as redes sociais: nem tudo é perfeito, as pessoas não têm 24/7 aquele aspecto, muitas das fotografias não passam de auto-promoção e o número de seguidores/likes não é algo com que se deva viver obcecado. É no fundo alertar para que as pessoas comecem questionar sobre os conteúdos que lhe aparecem à frente todos os dias. Acho que é uma mensagem forte e, embora não me reveja em muitas coisas na situação dela, admito que passo muitas, demasiadas horas a fazer scroll no Instagram e no Facebook e a ver televisão. Horas que podia aproveitar para aprender algo de novo, ler mais, trabalhar em coisas que gosto. Por isso, obrigada por me abrires os olhos nesse aspecto O'Neill e prometo pousar o telemóvel mais vezes e durante mais tempo.

Contudo, no final desse último vídeo, escreve "I'm not a purist. I need money for rent and food. If you get anything from my videos or the site pay what it's worth for you on the suport tab". Hum, não. Talvez moralmente não seja muito diferente seguir alguém que ganha quanto maior o número de subscritores tem ou dar-lhe directamente dinheiro. Mas ao querer sair dessa industria também tem de ter em conta as consequências. Se vai deixar de ganhar dinheiro ao trabalhar como modelo nas redes sociais tem que arranjar outra forma de o fazer. Talvez trabalhando num emprego normal? Não há ninguém que não gostasse que lhe pagassem para perseguir as suas paixões. Sem contrapartidas, apenas para fazer o que lhe apetece. Mas isso não é o mundo real e não é algo que aconteça. Em todos os trabalhos há algo que fazes por alguém e és pago por isso. Não acontece alguém se despedir do seu trabalho e continuar a ser pago sem retorno para outras pessoas. E infelizmente, dar a volta ao jogo e denunciar toda uma industria por detrás das redes sociais não me parece ser uma carreira lucrativa.

1 comentário:

  1. Mesmo a carreira de modelo já não é o que era... youtubers e instagramers ganham balúrdios!

    ResponderEliminar