O mesmo engenheiro sobre o qual fiz um post há uns dias disse-nos, numa aula
de dúvidas, algo que me fez pensar nas razões pelas quais é importante gostar
do que se faz, ainda mais quando se é professor. Nessa semana já tínhamos ido
ao seu gabinete umas 209083 vezes (estou a exagerar é claro, mas fomos
chatinhos sim) e ainda assim conseguimos ter dúvidas suficientes para ocupar
mais de uma hora da aula de esclarecimentos que ele tinha marcado. Às tantas,
como o engenheiro ia rodando de mesa em mesa consoante quem o chamava, um
colega que estava comigo saiu-se com um "o engenheiro tem cá uma paciência
para nos aturar, já deve estar farto de responder à mesma coisa umas 10 vezes".
E qual não é o meu espanto quando ele se encosta na cadeira com um ar de
felicidade de outro mundo (como quem vai contar uma história muito boa) e
responde, "sabe, para mim isto não é esforço nenhum, eu gosto genuinamente
do que faço, gosto de ensinar". E continuou a falar. Entre outras coisas,
disse-nos que não imaginava a vida de quem se levanta todos os dias para fazer
uma coisa de que não gosta. O que mais achei piada foi ele também dizer que
havia dias em que chegava à sala de aula sem vontade nenhuma, mas quando
começava a expor a matéria era como se o seu dia melhorasse: entusiasmava-se
sempre com o que estava a dizer, mesmo que já desse a mesma cadeira há anos.
Fez-me sentir um bocado culpada por não ter aproveitado as aulas dele (como
já tinha tido esta cadeira o ano passado, foram os muitos os dias em que não ia
por ter outros trabalhos por fazer ou mesmo por não me apetecer) pois tenho a
certeza que se na altura soubesse o que sei hoje, haveriam aspectos que
entenderia melhor se ouvisse na aula. E mesmo não pensando desse ponto de
vista, um professor que goste de ensinar merece ter alunos a quem dar aula e
que saibam intervir de maneira a gerar uma discussão saudável sobre o assunto. É
como falar de algo que gostamos muito com alguém, existem sempre coisas que
queremos ensinar à outra pessoa, existe sempre algo que esperamos aprender de
novo com outro ponto de vista.
Posso muitas vezes ficar desiludida com a faculdade que escolhi, com alguns
colegas e até com o curso, mas algo de que não me posso queixar foram os professores
que tive até agora. Podem não ser os maiores TOPs nem terem todos os
doutoramentos que existem para fazer na área - até porque ironicamente, três
professores que considero os piores do meu curso têm em comum, além da sua
chico-espertice, os doutoramentos em a, b, e c que fizeram em universidades
conceituadas - mas são professores que nos ajudam. São professores que estão
sempre disponíveis para nos esclarecer dúvidas (e sem revirar os olhos num “isto
é tão básico”), que fazem piadas para aligeirar as aulas e que no final da
discussão de um trabalho ficam a falar connosco sobre temas tão distintos como
o jogo do benfica ou as cadeiras que mais gostamos. Mais que um professor se
virou para nós quando, concluímos a sua disciplina, e nos disse "bem, boa
sorte, se algum dia precisarem de alguma coisa sabem onde é o meu
gabinete". Estas coisas fazem-me pensar que apesar de tudo, fiz bem. Mais
que não seja por ter tido o privilégio de ser ensinada por pessoas que nos
queriam realmente ensinar, e não por um bando de nerds que apenas vê o facto de
dar aulas como um meio de financiamento para uma das suas investigações, ou
pelo estatuto que é, nas suas cabeças, darem aulas em determinado sítio.
mas tas contente com o curso em si nao tas? é o que importa!
ResponderEliminarÉ óptimo ter bons profissionais que nos ensinem realmente e até além da matéria escolar, há profissionais (como este professor de que falaste) que nos ensinam também a olhar a vida sob outra perspectiva e isso é excelente. Eu não tive essa sorte, a maioria dos meus professores de faculdade não eram bons e via-se que estavam ali por obrigação, foi o caos... Enfim.
ResponderEliminarR: vou ter isso em conta querida :) falarei mais de cenografia com certeza, vou começar a pensar em posts em que possa falar disso :)