Desde o 10º ano que pertenço a turmas em que as raparigas estavam em número
muito inferior. Por isso sempre convivi mais com rapazes do que com raparigas,
e talvez seja também a razão pela qual ainda hoje todos os meus amigos mais
próximos são rapazes. Se esse facto fez com que deixasse de ser menos
"menina" segundo os padrões da sociedade? Nop. Tenho muita
maquilhagem, roupa a mais que acho nunca ser suficiente, you name it. Nunca
senti nenhuma distinção entre homem e mulher, nem me senti inferior por ser
rapariga. Só vi alguma diferença entre géneros quando fui para a faculdade.
Durante o meu curso tive maioritariamente professores. Tive, no máximo, duas
professoras na área de matemática. E maior parte dos dias não noto diferença
nenhuma na maneira como AS minhas colegas e OS meus colegas são tratados.
Mas já ouvi algumas piadas de professores mal formados que acham engraçado (uma
vez que a sua "audiência" é mais masculina do que feminina) fazerem
piadas sem piada sobre o género feminino. Não vou falar de casos concretos, mas
era algo como "perceber esta linguagem é mais fácil do que perceber as
mulheres", ou afirmar que certa maneira de resolver um problema "é só mesmo
na sua cabecinha de rapariga".
Também já ouvi alguns colegas duvidarem das capacidades de uma ou outra colega
do meu curso, apenas por ser rapariga. Da mesma maneira, se alguma oportunidade
extra ou benesse era dada a alguém do sexo feminino, era mais uma vez por ser
miúda. Claro que neste último caso, haja quem faça o típico choradinho e se
safe. Mas isso também acontece do lado dos rapazes, só que nunca é visto da
mesma maneira.
Embora fique estupefacta com estas mentalidades, admito não me levanto logo
da cadeira e começo um discurso sobre “a idiotice de algumas pessoas no século
XXI”. Primeiro, porque não o vão ouvir. E depois porque (academicamente falando)
uma nota na pauta consegue dizer um GUESS WHAT, BITCH! de forma mais eficiente
do que qualquer conversa sobre a diferença entre géneros que não deveria
existir.
Mesmo com algumas condicionantes e estereótipos, nunca me arrependi da área
que escolhi. Acho ridículo escolher profissionalmente determinado caminho só
porque as amigas vão, mas até eu fiquei reticente ao ver que no ano anterior à
minha candidatura, apenas duas raparigas tinham entrado vs trinta e tal
rapazes. Mas que se lixe se acham que uma rapariga não serve para informática,
assim como um rapaz não devia ir para educação básica. Cada um vai para o que
quer, enquanto pessoa, não pelo género. Não passou assim tanto tempo desde que
entrei na faculdade, mas é bom ver que todos os anos, cada vez mais raparigas se
candidatam a esta área. Inclusive, algumas das que entram conseguem ter
melhores notas do que os rapazes (lá se vai a crença de que determinada área é
melhor ou pior para alguém segundo o seu sexo).
E este foi o dia em que me apeteceu escrever sobre isso porque me lembrei
que a pessoa que mais me apoiou na escolha do meu curso até foi um rapaz. O
mesmo que me aparece com uma rosa todos os anos neste dia e em muitos outros, sabendo
que me vou armar em parvinha e dizer que é piroso receber flores (mas depois
derreter como manteiga ao sol). Não ligo ao dia em particular, agradeço a flor
em si mas nunca digo “obrigado por me tratares bem” porque não há que bater
palminhas a isso. O normal é uma pessoa tratar bem a outra, seja de que género
for. De estranhar é uma pessoa tratar mal alguém apenas porque é de outro sexo,
ou se achar superior e mais capaz tendo como argumento algo que a lotaria da
genética lhe atribuiu.
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